A Câmara Municipal de Belford Roxo realizou nesta quinta-feira (17/11) a audiência pública “Combate ao Racismo Religioso” com o objetivo de debater com diversos segmentos da sociedade a liberdade religiosa e o combate ao racismo. Os vereadores Jorge Soares Braga, o Jacó, Igo Menezes (que está licenciado para assumir o cargo de secretário de Saneamento) e Denis Venâncio irão elaborar uma minuta de projeto de lei para criar um estatuto com orientações para combater o racismo e a intolerância religiosa no município. Uma das propostas é fazer um censo de todas as religiões em Belford Roxo. A audiência pública, que foi aberta com o toque dos atabaques para Xangô, contou com representantes de diversas religiões como o catolicismo, candomblé, umbanda, budismo e islamismo, entre outras denominações.
Presidindo a audiência pública, o vereador Jacó enfatizou que a participação de todas as religiões é importante na elaboração do projeto. “Esta audiência é um marco. Estamos debatendo a intolerância religiosa e o racismo religioso não só com as pessoas de religião, mas com todos os segmentos da sociedade. É fundamental que recolhamos as propostas para que possamos avaliá-las, debatê-las e colocá-las em prática para a criação do estatuto. As pessoas precisam se amar mais e deixar o preconceito e a intolerância de lado. As religiões de matrizes africanas são as mais perseguidas, mas elas têm raízes culturais e, assim como as outras, também merece respeito”, concluiu Jacó, lembrando que o debate envolve diversas Secretarias Municipais, como Saúde, Educação e Meio Ambiente, por exemplo.
O secretário de Saneamento, Igor Menezes, destacou que o racismo religioso aumentou nos últimos quatro anos, com o crescimento da intolerância. “As minorias sofrem com as discriminações. O preconceito destrói uma sociedade. Precisamos espalhar o amor e a paz para termos um mundo melhor”, frisou. “Muitas religiões no Brasil são incompreendidas, pois existe muito preconceito. Precisamos dialogar e educar para acabar com o preconceito”, resumiu o vice-presidente da Comunidade Muçulmana, Ihtsham Ahmad Momama.
Destacando que Belford Roxo é a cidade onde há o menor número de casos de intolerância religiosa e racial, o secretário municipal de Cultura, Bruno Nunes, lembrou que o Conselho de Igualdade Racial está funcionando e é presidido por Salomão Moura, o pai Salomão. “É necessário construir uma sociedade justa, fraterna e sem divisões”, sustentou. “Precisamos enfrentar o racismo religioso. Por isso buscamos sempre o diálogo com as lideranças para buscarmos soluções”, completou a defensora pública Thais dos Santos
Terreiros quebrados
Praticante do candomblé há mais de 40 anos, Rosana Gonçalves, 51, conhecida como Doné Rosana, salientou que o preconceito e a intolerância com as religiões de matriz africana aumentaram nos últimos quatro anos. Ela tem um terreiro em Belford Roxo e afirmou que nenhum vizinho nunca se incomodou com suas atividades religiosas. “Não tenho problemas, mas vimos constantemente terreiros sendo quebrados por pura intolerância. Sei de pessoas que não podem nem acender uma vela, pois recebe logo uma saraivada de críticas. Essa audiência pública na Câmara Municipal é importante para debatermos a fundo essas questões”, encerrou. “Entre candomblé e umbanda tenho 42 anos de religião. Mas ainda não me sinto segura para ir às ruas com a roupa da religião, pois há muita intolerância e zombaria”, afirmou Lizete Jacinto, 52, a mãe Lizete, dona de um terreiro no bairro Malhapão.
A audiência contou também com a participação dos pastores Carlos Alberto Almada e Júlio Costa, pai Sérgio, pai Salomão Moura, a equede Renata Aleixo, representantes de diversas religiões e do 39º batalhão de Polícia Militar. O encerramento da audiência pública foi com as baiana da escola de samba Inocentes de Belford Roxo, que dançaram ao som do samba-enredo “A meia-noite dos tambores silenciosos”, que deu o quarto lugar (Série Ouro) à agremiação no carnaval deste ano.