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Professor de matemática de Belford Roxo cria projeto que multiplica ações em defesa do meio ambiente

Professor de matemática na escola municipal José Pinto Teixeira, no bairro Recantus, antigo Babi, em Belford Roxo, João Carlos Pereira Braga, 40 anos, não precisou quebrar muito cabeça para encontrar uma fórmula de equacionar o problema para criar o Recoin, uma espécie de moeda que é trocada por materiais recicláveis recolhidos na escola. A proposta faz tanto sucesso, que o projeto “Recoin: o dinheiro que vem do lixo” foi inscrito no prêmio Professor Transformador 2023, cuja final será no dia 10 de maio (quarta-feira), em São Paulo. A iniciativa é da Bett Brasil, Instituto Significare e do Sebrae. Em todo o Brasil foram 625 trabalhos, sendo 179 do Rio de Janeiro. O único escolhido para representar o Estado é o de Belford Roxo. No município, a iniciativa do Recoin já recolheu, desde 2021, mais de uma tonelada de produtos recicláveis que iam parar em rios, valões e bueiros.

            O Professor Transformador 2023 premia os profissionais da educação que têm o empreendedorismo como ferramenta de transformação de seus alunos e da sociedade. Em todo o Brasil foram inscritos 2.897 projetos em sete categorias. Na final do prêmio serão escolhidos sete projetos vencedores, sendo um para cada uma das cinco regiões do Brasil. O professor João Carlos concorre na categoria “Ensino Fundamental – Anos Finais”. Cada finalista receberá uma bolsa integral no curso de MBA em Educação Empreendedora, troféu e certificado.

            O secretário municipal de Educação, Denis Macedo, destacou que o projeto “Recoin: o dinheiro que vem do lixo” aborda em conjunto a questão ambiental com a educação financeira e o empreendedorismo. “A ideia é ótima, pois desde cedo a criança começa a ter noções de finanças, conhecer cédulas e moedas. Isso é fundamental para a educação financeira e os alunos crescerem com essa consciência, além de manter o meio ambiente melhor”, frisou Denis Macedo, ao lado da secretária especial de Assuntos Pedagógicos Rosangela Garcia e da responsável pelos anos finais do ensino fundamental, Waleska Rangel, e da diretora da escola municipal José Pìnto Teixeira, Cláudia Sueli Silva de Souza.

            Entusiasmada com o projeto, Vitória Santos Mariano, 13 anos, aluna do 7º ano, está juntando recicláveis para conseguir trocar pelo patinete, que custa 1.000 Recoins. “É a minha meta, vou conseguir”, resumiu timidamente, posando com o item juntamente com o professor João e a diretora Claudia. “Sonho em comprar um fone de ouvido e vou me esforçar para isso. Acho o projeto muito bom, pois ajuda o meio ambiente e nós aprendemos a lidar com finanças”, completou Lays Victória Teles do Carmo, 11, que cursa o sexto ano e já comprou batom no mercadinho do Recoin.

Materiais iam para os rios

            Oriundo de Brejo do Cruz, interior da Paraíba (terra do cantor Zé Ramalho, que imortalizou a cidade citando a Pedra de Turmalina – patrimônio histórico de Brejo do Cruz e do Estado – na canção Avôhai), o professor João explicou que o projeto para a criação do Recoin (o Re é de resíduos; recicláveis, enquanto o coin remete à moeda virtual Bitcoin) começou em 2021. O fato de dar aula em uma região cortada pelo rio Botas o incentivou a criar o projeto. “Ao longo dos anos vimos muitas pessoas perderem tudo com as enchentes. Então, comecei a formatar o projeto e criei o Recoin não só para a educação financeira, mas para que os alunos nos ajudassem a recolher os materiais recicláveis que iam parar nos rios. A adesão foi ótima”, explicou o professor, lembrando que os valores em Recoin conseguidos pelos alunos são trocados no mercadinho que funciona dentro da escola com diversos itens, como lápis, borracha, lápis de cor, batom e apontador, entre outros.

            O coordenador regional do Sebrae, Willians Baptista, frisou que o projeto “Recoin: o dinheiro que vem do lixo” é uma iniciativa que proporciona que os alunos aprendam a lidar com a educação financeira, além de retirarem materiais recicláveis do meio ambiente, evitando enchentes. “O trabalho do professor João precisa ser replicado. Para Belford Roxo é uma honra ser o único representante do Rio de Janeiro no Prêmio Professor Transformador 2023”, resumiu Willians, ao lado do analista do Sebrae, Edmilson Gonçalves.

‘Transferidor’ de mudanças e ‘divisor’ de águas

            O ano era 2021. Cansado de ver a enchente do rio Botas alagar o bairro e localidades adjacentes, o professor João Carlos “esquadrinhou” em sua mente um projeto que fosse “transferidor” de mudanças.  Vendo a questão por outro ângulo, o professor ficou em “compasso” de espera, pois a próxima etapa seria “fazer as contas” para colocar a ideia em prática para alterar a situação.  Era a “prova dos noves”! As ideias foram se multiplicando e o Recoin virou um “divisor” de águas na vida do professor de matemática e de toda a comunidade escolar.

            “A meta foi juntar educação financeira com consciência ambiental. Os alunos, a diretora e os funcionários da escola abraçaram a ideia. Aí criei uma tabela de valores do Recoin, as cédulas com valores e fomos buscar o parceiro para nos ajudar a montar a lojinha para que os alunos pudessem comprar as mercadorias com os Recoins dentro da própria escola. Creio que estamos formando bons cidadãos que irão se preocupar com a vida financeira e com o meio ambiente. O trabalho gerou frutos e estou muito feliz em participar do Prêmio Professor Empreendedor 2023. A expectativa é muito grande”, finalizou João Carlos, que mora no Rio há 14 anos, enfatizando que o material reciclável recolhido é repassado a um parceiro do projeto e o total arrecadado é utilizado para a compra de materiais da lojinha.

            Pela tabela de conversão criada pelo professor, um litro de óleo de cozinha já utilizado várias vezes vale 5 Recoins; três recipientes de alumínio (lata de refrigerante o cerveja), por exemplo, 3 Recoins; cinco garrafas pet, 1 Recoin; cinco produtos eletrônicos inutilizados, 10 Recoins; e celular sem condições de uso, 1 Recoin. “Temos também o título de capitalização, que atualmente vale 34 Recoins. A pessoa que não quiser comprar mercadorias no mercadinho da escola, pode investir agora no título e no final do ano resgatar 50 Recoins. Terá um lucro de 16 Recoins”, explicou o professor, que criou o Banco Central da Natureza, para vender os títulos fictícios.

            Entre os produtos que podem ser comprados no mercadinho estão: caneta colorida (10 Recoins); kit escolar (120 Recoins); boneca sereia (120 Recoins); apontador (2 Recoins) e batom (15 Recoins). “Uma aluna da EJA (Educação de Jovens e Adultos) queria comprar uma prancha de cabelo no mercadinho. Ela juntou os Recoins e conseguiu. É gratificante ver a participação de todos nesta iniciativa, que forma cidadãos dando noções de educação financeira e respeito ao meio ambiente”, encerrou a diretora da escola municipal José Pinto Teixeira, Cláudia Sueli Silva de Souza, destacando que a unidade tem cerca de 900 alunos.

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